confissão sobre a confissão XIII

Para viver devo estar em harmonia com a imagem que crio de mim, e com a imagem que os outros criam de mim. São dois os eus, portanto, e são dois eus que se digladiam e disputam a predileção de minha simpatia. O doppleganger é real, é terrível, e o doppleganger é íntimo. Na batalha existencial entre ilusões, tão só espero que o então considerado impermanente pelos budistas, dir-se-ia o ego, não se esfacele ou se corrompa em outros pares a mais – e tão ou mais orgulhosos ou vaidosos.

confissão sobre a confissão XII

Sentir-se como um palhaço de circo que acredita, por demais, em suas palhaçadas, brincadeiras e jogos; que ri das próprias piadas; que acredita compreender o universo do possível e do impossível em sua arte; que chora, desesperado, atrás ou à frente das cortinas – de um cadafalso.

confissão sobre a confissão XI

O suicídio como fuga pressupõe a vida como prisão. Pressupõe os sonhos como a animadora visão do firmamento. (A prisão em uma colina, iluminada por um farol). E a liberdade do fugitivo pressupõe a pena não-cumprida e a pena a se cumprir em uma existência de maravilhas. (A limitação; ou o limitar-se). Pressupõe o crime, e pressupõe a culpa. Pressupõe, sobretudo, o Tempo.

confissão sobre a confissão X

E como não confiar à Ufologia ou ao Ocultismo o bastião da incerteza e do acaso se até a religião converteu-se à ciência? Quando a religião é a exatidão, quando Deus é limitado pela crença, cabe aos loucos e alienados e desgarrados postular que o universo não é final ou completo. Que o universo não é, sequer, lógico, ou decorrente de relações causais absolutas. Nada se explica por si. Tampouco será explicado pelas vicissitudes das equações e operações, daquilo que é incapaz de conceber um paradoxo e que, ironicamente, possui no mesmo a sua comprovação.

confissão sobre a confissão IX

Gosto de me perguntar se existem tantos estilos possíveis quanto sentidos, ou histórias; e gosto de me perguntar se existem relações ou correspondências entre uns e outros, ou se existiria uma mensagem cifrada nas associações que vinculam os significados – como o rumor de que a contínua capitulação do número PI por máquinas decorre da crença, atribuída a certos cientistas, que Deus ocultou seus preceitos em constantes matemáticas ou em suas infinitas extensões.

Gosto de me perguntar.

Não gosto de me responder.

confissão sobre a confissão VIII

Com exceção ao autoconhecimento, e não obstante o imaginável e o provável, em termos de felicidade nenhum futuro há de ofuscar o meu passado – o que eu aceitaria se prestes a morrer ou se antes conhecesse os cumes do êxtase. Pois não concebo uma felicidade que – prenunciada a idade e a saúde, ou a morte, ou a mera limitação das possibilidades (assim seria?) – derrote o viril inimigo das circunstâncias.

Porventura uma vicissitude afim aos meus fins…

E, no entanto, o impossível existe…

confissão da confissão VII

Nada me convence que a mensagem é relevante, e nada me convence que será. Não obstante a expectativa – dir-se-ia a razão –, a mensagem, o significado e o conteúdo tão só expressam possibilidades, e tampouco o estilo distingue-se por suas verdades ou por ser verdadeiro. O mundo é falso e uma linguagem falsa o representa. Mas entre um e outro, entre essência e aparência, todavia, o estilo permanece, recorrentemente, fiel a si.

confissão sobre a confissão VII

Se a palavra liberta, se a palavra é mágica, o estilo representa o ritual. Como das mágicas e das magias, de um nada predeterminado advém a sentença, advém a estória. Há correspondências para o coelho na cartola, o pombo na manga, a assistente serrada ao meio, mas, em contrapartida, a linguagem não precisa de explicação.